“Não me arrependo de ter retrucado”, diz homossexual agredido em São Paulo

André Baliera, de 27 anos, fez um vídeo para agradecer o apoio que tem recebido

“A sociedade acha que o papel do gay é ser ofendido, abaixar a cabeça e fingir que nada aconteceu. Não me arrependo de ter retrucado”. O desabafo é do estudante de direito André Baliera, de 27 anos, agredido na última segunda-feira (3), na Rua Henrique Schaumann, em Pinheiros. Em depoimento, um dos agressores disse que o estudante “apanhou de besta” e que deveria ter seguido seu caminho.

André foi agredido pelo estudante Bruno Portieri, de 25 anos, e o personal trainer Diego de Souza, de 29 anos.  A vítima estava atravessando a faixa de pedestres quando ouviu insultos da dupla. “Me chamaram de veado, de bicha. Eu não fiquei calado”. André revidou e quando fez menção de pegar uma pedra – que ele afirma nunca ter jogado -, o personal trainer aproveitou o sinal aberto, parou em um posto da esquina, onde estava André, desceu e começou a espancá-lo.

A briga só parou quando a polícia chegou. “Eu estava sangrando muito, atordoado. Algumas pessoas vieram me ajudar. Foi a primeira manifestação de solidariedade”, lembra. Para agradecer o apoio e se defender da versão dos agressores, André gravou, nesta quinta-feira, o vídeo “Obrigado e desculpa”.

Segundo a versão de Bruno e Diego, tudo não passou de uma briga de trânsito. “Tudo começou porque eles pararam na faixa de pedestre e a vítima mostrou o dedo do meio. Eles foram provocados”, afirma o advogado Joel Cordaro, que já entrou com pedido de habeas corpus.

Punição

Os dois agressores estão presos no Centro de Detenção Provisória de Osasco – Bruno Portieri, que comercializava suplementos em uma academia, já foi desligado do emprego.  A dupla foi indiciada por tentativa de homicídio e será processada pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania de São Paulo com base na lei paulista número 10.948/01, que prevê multa a “toda manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero”. Se condenados, cada um poderá desembolsar de R$ 18 mil a R$ 55 mil.

André não acredita no sistema prisional. “Eles não vão sair pessoas melhores de lá”, afirma, mas espera uma punição que doa de alguma forma, “mesmo que seja no bolso”. Porém, se pudesse escolher, pediria que a pena os obrigasse a trabalhar com a comunidade LGBT. “Gostaria que eles conhecessem os muitos que são espancados todos os dias. Que eles tivessem contato com essa realidade e entendessem que nós temos direitos como qualquer um.”

Protestos

André é militante da causa e ajudou a criar, na faculdade de direito, o Grupo de Estudos sobre Direito e Sexualidade (Geds). Também trabalhou no Centro de Combate à Homofobia da Prefeitura de São Paulo.

Amigos e integrantes de ONGs já organizaram um protesto amanhã (8), às 15h, no local onde André foi agredido. A manifestação foi apelidada de Churrascão das Cabras – o nome ironiza o texto do jornalista JR Guzzo, publicado pela Veja. Os manifestantes pedirão por uma lei que criminalize a homofobia.

(Caroll Almeida)

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