Consumismo ou diversão? Conheça a história de três colecionadores fanáticos por suas coleções

Sala do apartamento do colecionador Michel, planejado para abrigar seus 5 mil bonecos

Viver dentro de uma grande loja de brinquedos. Essa é a sensação quando se entra no apartamento do arquiteto Michel Feghali, de 40 anos. Colecionador de Hot Toys, bonequinhos japoneses ricos em detalhes, brinquedos da década de 80 e pequenas esculturas de personagens de filmes e desenhos, Michel reúne cerca de 5 mil itens em um apartamento de 185 m², projetado especialmente para a coleção e batizado de Palácio Azul.

Bonecos do filme Star Wars, Exterminador do Futuro, rock stars, almofadas com estampas de desenhos famosos, cartazes, quadros… a coleção está espalhada pela sala, quartos, cozinha e até o banheiro de Michel é tomado por bonequinhos.

Loucura? Consumismo desnecessário ou só uma forma de se divertir? Para o jornalista e curioso sobre o assunto Marcelo Duarte – que também tem uma coleção para chamar de sua, com mais de 80 pandas em formatos de pelúcia, caneca, relógio  -, acredita que não há como generalizar, tachar todo colecionador de acumulador compulsivo. “Há quem consiga manter isso de forma saudável, apenas um hobby que o distrai do dia-a-dia, e tem quem perca o limite, gaste fortunas”, avalia.

Por conta da coleção, Michel perdeu o limite da conta bancária. “Fiquei endividado. Comprar artigos colecionáveis se tornou uma obsessão, mas consegui controlar”, explica. Mas ele, que começou a coleção aos 11 anos e já chegou a pagar R$ 4 mil em um único item – um busto do Predador -, não se arrepende de viver em função da coleção. “Era um sonho que eu tinha morar num lugar rodeado de brinquedos. Me sinto feliz, há uma energia muito boa, sou apaixonado por eles.”

Bonequinha de luxo

Júlia mostra uma parte da sua coleção de bonecas Barbie

Paixão é o que faz a estudante de psicologia Julia Cury, de 24 anos, gastar uma grana considerável em bonecas Barbie. Mas não dessas de supermercado e lojas de brinquedo. Julia coleciona, desde 2008, as do tipo “Barbie Collector”, direcionadas ao público adulto e que chegam a custar R$ 2 mil.

“Tenho 40 da Collector e 50 comuns, que guardo desde a infância. Mas minha meta é chegar a ter pelo menos 100 bonecas de coleção”, conta. Louca pelo brinquedo, já desembolsou R$780 num exemplar e sonha em comprar a Lady of the Unicorns, uma Barbie rara.

Esse patamar, o de buscar o item mais raro para compôr a coleção, mostra uma característica inerente a quase todo colecionador, a persistência em alcançar um objetivo. “Mas é preciso cuidado para a vida não começar a girar em torno disso”, alerta Marcelo Duarte.

No caso da estudante, a coleção de Barbie já a atrapalhou em diversos momentos, inclusive, na organização do quarto. “Tive que comprar uma cristaleira para a coleção e quase já não cabe. Vou ter que fazer nichos para hospedar as que comprarei futuramente”, calcula.

“Sem valor”

Mas nem toda coleção despende tempo, dinheiro e pesquisas. Há quem colecione tampinhas, canetas e, no caso do funcionário público Marcellus Araújo, de 27 anos, cartões de visita. Sim, desses que não valem um centavo e que você acha em qualquer canto. “Tenho de todas as coisas possíveis: restaurantes, clínicas, advogados, buffets, psicólogos, políticos, motéis, professores, organizações não governamentais, astrólogos, empresas, lanchonetes, artistas, galerias, museus, editoras, tudo.”

Colecionador desde a adolescência, Marcellus vê nos meus mais de 500 cartões um jeito divertido de aprender design e tipografia. “Gosto das variedades de cortes, dos redondos, dos mais criativos, os que “abrem”, e também das diferentes letras, grafia e cores usadas”.

Apesar de se admitir um acumulador, ele garante que também tem facilidade para se desfazer, doar ou jogar fora aquilo que não quer mais. Mas com os cartões, em especial, ele duvida. “Eles são um retrato da vida: endereços antigos, telefones que não existem mais, tipografias que eram moda e hoje são consideradas cafonas, enfim.”

Para fazer um “tour” pelo Palácio Azul do colecionador Michel Feghali, clique aqui.

(Caroll Almeida)

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