Com orquestra viva Peter Gabriel aposta na beleza da imperfeição humana

A maior surpresa dos aperitivos servidos na coletiva do SWU 2011 foi saber que Peter Gabriel está voltando ao Brasil – e dessa vez sem guitarras e bateria, mas com uma orquestra completa: a The New Blood Orchestra.

E aí vêm as perguntas: “Pode funcionar um show de um medalhão do rock sem os instrumentos tradicionais do gênero? Sem os beats? Sem os Loops e samples que caracterizam sua fase mais popular, aquela dos anos 80 e do disco So?

Vale dizer que chamar Peter Gabriel de “medalhão do rock” pode ser considerado um equívoco, já que ele é um dos artistas que mais pensa adiante na música pop. Mesmo começando como vocalista de um dos pilares do rock progressivo dos anos 70, o Genesis, Gabriel está muito distante de ser apenas um “dinossauro”. Ele é o tipo de artista inquieto, que acredita que estamos adentrando um tempo onde a beleza repousa na imperfeição.

Com uma bateria eletrônica, ou um sintetizador, você é capaz de reproduzir sons com extrema perfeição, ou seja, algo muito distante, uma opaca representação de um instrumento natural, pois tudo é deveras controlado.

Já com um aglomerado de cordas e instrumentos acústicos, como no caso de uma orquestra, por mais que pareça o contrário, imperfeições ocorrem. Mesmo se tratando de exímios músicos, é humanamente impossível não ocorrer alguma variação de afinação, por exemplo.

A emoção impressa por cada elemento da orquestra em seu instrumento também conta e altera o resultado final. Enfim, existe uma vibração vital que surge de instrumentos acústicos sendo executados ao vivo, ali no calor do momento. É exatamente isso que anda fazendo a cabeça de Peter Gabriel nesse seu novo projeto e deve fazer a cabeça de quem presenciar a aguardada apresentação dele no SWU 2011.

Scratch My Back, o disco mais recente do vocalista aposta no toque humano, na música orgânica e real, em pleno auge da tecnologia. No intrigante álbum, Gabriel faz releituras de canções de outros artistas, amparado de cordas. Apenas voz e orquestra.

Outros artistas e projetos atuais, como Owen Pallett, These New Puritans e Michael Nyman, correm pela mesma vertente, flertando com a música clássica contemporânea. Seria esse o início de uma rebelião contra o uso de tecnologia na música?

O próprio Peter Gabriel mata o assunto: “É muito difícil olhar de fora enquanto você está do lado de dentro. Pensando bem, quando você tem muito de uma mesma coisa, outro lance completamente diferente começa parecer mais atraente”, disse ele à revista inglesa Classic Rock, há três meses.

Se lá por volta de 1973 a rica sonoridade do Genesis soava como uma orquestra sinfônica executando longas suítes com instrumentos modernos, Peter Gabriel fechou um ciclo e criou uma nova sinfonia, abandonando efeitos eletrônicos e apostando novamente na beleza da imperfeição humana.

Esta entrada foi publicada em Toma Rock! por Bento Araújo. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

136 respostas a Com orquestra viva Peter Gabriel aposta na beleza da imperfeição humana

  1. luis disse:

    O cara tá mil anos luz na frente de qualquer músico. Vamos ver se o público brasileiro, ávido por sons facilmente consumíveis, entenderão sua mensagem.
    Minha admiração pelo cara!

  2. Duranice disse:

    Muito interessante a proposta dele tocar com orquestra…. Vamos esperar para ver ao vivo como ficará esta experiência.

  3. Lucas Barbosa disse:

    Peter Gabriel é lenda. So não sei se com orquestra seria o ideal pro Festival

  4. FERNANDO disse:

    Genesis é bom demais!!!!!

  5. deborah disse:

    esse show ta com cara de hora do soninho