SIGA-ME, por Alexandre Inagaki

Música boa deve ser ouvida com os olhos fechados. Para viajar longe, na sala escura da imaginação, enquanto o projetor da minha mente exibe um videoclipe composto por associações inusitadas e memórias resgatadas por melodias, riffs e acordes que compõem a trilha sonora da minha vida.

Músicas marcam vidas e mudam o mundo. Gostaria de destacar aqui um caso singular: a Revolução dos Cravos, que acabou com um regime ditatorial e colonialista, inspirado no fascismo. Essa ditadura, que governou Portugal por 48 anos, chegou ao fim graças a uma revolta que começou com duas canções.

Explico: para que os soldados rebeldes soubessem que estava tudo pronto para o início da Revolução, os organizadores combinaram que as tropas deveriam se preparar para sair dos quartéis somente depois que duas músicas pré-combinadas como senhas tocassem na rádio. A primeira foi uma canção romântica: “E Depois do Adeus”, de Paulo Carvalho. E a segunda, que deu o sinal verde definitivo para que os militares saíssem às ruas, foi tocada às 00:20 do dia 25 de abril de 1974: “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, que havia sido censurada pela ditadura.

Quando o dia amanheceu, os lisboetas viram suas ruas tomadas por jovens soldados. Não foi disparado nenhum tiro, porém; ao contrário, mulheres, crianças e velhos subiram em cima dos tanques e confraternizaram-se com os oficiais. O movimento ficou conhecido como “Revolução dos Cravos” por causa de um militar que, ao ganhar um cravo de uma florista, colocou-o no cano de sua espingarda. O gesto, repetido por dezenas de outros soldados, virou o símbolo de uma revolução que trocou tiros por música. E inspirou uma canção de 1978 de Chico Buarque: “Tanto Mar”. Que, ironicamente, foi censurada pela ditadura militar que governou o Brasil até 1985.

Os tempos mudaram, mas o poder que a música possui de inspirar multidões permanece. Nesta era pós-utópica, creio que o movimento SWU é uma bela maneira de conscientizar o maior número possível de pessoas em torno de uma boa causa: ajudar a tornar este mundo melhor através de pequenos grandes gestos. Reciclar lixo, apagar luzes acesas desnecessariamente, consumir menos plástico… Quando penso no assunto, recordo sempre da teoria do karma e de um sábio verso dos Beatles: “No fim, o amor que você recebe é o mesmo que você dá”. Que assim seja.

Alexandre Inagaki é jornalista e blogueiro (http://www.pensarenlouquece.com). Para segui-lo: @inagaki

Esta entrada foi publicada em Blog. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

6 respostas a SIGA-ME, por Alexandre Inagaki

  1. fenderbirds disse:

    nice article, keep the posts coming

  2. lipeabolonhesa disse:

    Sem duvida a musica é capaz de salvar o mundo, hoje a luta não é mais contra a ditadura e sim com os nossos velhos e perigosos habitos.

  3. Reginaldo Fabiano disse:

    Cara muito bacana esse seu texto,me identifiquei
    muito com seu primeiro parágrafo muito bacana ta
    de parabéns !!!!!!!!!! (de parabéns mesmo)

    A música é arte,a música é “Paz”

  4. liliane ferrari disse:

    amém!!

  5. Gabriela disse:

    Excelente texto! Muito bom saber curiosidades como essa sobre a Revolução dos Cravos. E sobre música, bom, sou suspeita para falar. Eu praticamente sou movida por ela. Tudo que faço tem alguma letra como tema.
    Sobre o SWU, é uma ótima chance de discutir o assunto de maneira leve e divertida com trilha sonora e tudo.

    Grande beijo!